Trump quer taxar produtos importados e agro brasileiro poderia se dar bem com isso, avaliam especialistas
08/11/2024
0 ComentáriosO republicano Donald Trump foi eleito o próximo presidente dos EUA sob a promessa de aumentar as tarifas de importação para parceiros comerciais, principalmente a China, nação com a qual ele já travou uma guerra comercial no primeiro mandato, entre 2017 e 2021.
Em seu plano econômico, Trump promete impor uma alíquota de 60% ou mais às importações de produtos chineses, e taxas de 10% a 20% na entrada de mercadorias de outros países.
🚢 O Brasil é um importante fornecedor de alimentos para os EUA hoje: é o maior para o café, por exemplo. Outros itens agrícolas que têm peso na exportação para os americanos são suco de laranja, carne bovina, produtos da cana-de-açúcar, couro e soja (saiba mais abaixo).
Então, um “tarifaço” do Trump poderia impactar o agro do Brasil? Analistas de mercado e associações entrevistadas pelo g1 destacaram dois pontos:
uma possível guerra comercial deve atingir mais a China e produtos de tecnologia; neste cenário, a China pode taxar produtos agrícolas dos EUA, o que teria impacto positivo para o agro, levando a um aumento das vendas de soja do Brasil para o país asiático, como aconteceu no primeiro mandato de Trump, e também de carne bovina e milho.
É muito difícil que Trump taxe a importação de produtos de primeira necessidade, como o café e a carne, sob o risco de provocar um aumento nos preços dos alimentos nos EUA; além disso, o país é o que mais consome café no mundo e esse setor (cafeterias e torrefações) gera muitos empregos.
“Hoje, por exemplo, os Estados Unidos são o segundo grande comprador de carne bovina do Brasil [depois da China]. Eles estão na pior posição do seu rebanho de bovino desde os anos 50. Então, eles não têm muito como abrir mão do Brasil neste momento”, exemplifica Iglesias.
“Para qualquer governo do mundo, alta de preços dos alimentos é um assunto extremamente delicado. Por mais protecionista que Trump seja, ele não vai tomar uma medida que custe caro ao seu governo”, acrescenta.
Para Iglesias, a guerra comercial do Trump deve ficar muito concentrada na China e em produtos de tecnologia, como aconteceu no primeiro mandato do republicano. “Como em carros elétricos chineses, componentes eletrônicos, e outros manufaturados que a China exporta”, ressalta o analista da Safras.
Há um outro consenso entre os entrevistados pelo g1: a de que as exportações de soja do Brasil podem aumentar para a China, caso os EUA levem para a frente a promessa de taxar os produtos do gigante asiático.
Isso já aconteceu no primeiro mandato de Trump, quando os dois países protagonizaram uma intensa guerra comercial entre 2018 e 2019.
Em resposta a barreiras tarifárias impostas por Trump, a China taxou, em 2019, uma série de produtos norte-americanos, incluindo a soja, com uma alíquota de 25%, destaca um relatório da consultoria StoneX.
Esse movimento fez a China ampliar as suas compras de soja brasileira na época, para compensar a redução da importação do grão americano.
Brasil e EUA são, respectivamente, os maiores exportadores mundiais da leguminosa. Além disso, os brasileiros são os maiores fornecedores do grão para o mercado chinês.
A soja, assim como o milho, é muito importante para a China conseguir alimentar seus rebanhos, principalmente o de suínos, que é o maior do mundo.
“Se o Trump colocar tarifas, nós temos a expectativa de que o Brasil consiga fortalecer o comércio de soja com a China”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Maurício Buffon.
Diante de temores de uma possível tensão comercial, exportadores dos EUA correram para enviar soja para a China neste fim de ano, disse à Reuters a analista Rosa Wang, da JCI, empresa de agroconsultoria sediada em Xangai.
Esse movimento fez com que, em outubro, as importações chinesas de soja aumentassem 56%, em relação a igual mês do ano passado, para 8 milhões de toneladas, segundo cálculos da agência Reuters.
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