Troca de dívidas e cortes no orçamento estão entre as principais orientações de especialistas em Ribeirão Preto, SP. ‘Saúde financeira precisa ser entendida como uma questão de saúde pública’, diz assessor.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em novembro de deste ano, o número de famílias endividadas no Brasil atingiu a marca de 78,9% do total de lares no país. O dado consta da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor feita pela entidade.
Ainda de acordo com a CNC, o número de pessoas que estavam com contas de consumo ou dívidas atrasadas chegou a 30,3% no mês de novembro.
Com a virada do ano, muita gente promete cumprir metas em relação à saúde, ao bem-estar e ao bolso. Nesta matéria, o g1 conversou com especialistas e reuniu dicas para ajudar quem pretende sair do vermelho no banco em 2023.
Para o assessor de investimentos Gustavo Zebian, o primeiro passo é entender que evitar dívidas não é apenas uma questão de dinheiro e controle de orçamento, mas de saúde.
Para o assessor de investimentos Felipe Borba, o primeiro passo é descobrir qual é o orçamento familiar e para onde o dinheiro vai. Para isso, ele indica o uso de planilhas de controle e a técnica de anotar tudo que sai e tudo que entra no mês.
“Fazer orçamento doméstico é essencial para ter em mente quanto você recebe por mês e quanto você tem de despesas fixas. Que não podem ser evitadas, como aluguel, água e luz. A partir disso, você consegue mensurar no orçamento quanto sobra para emergências e despesas variáveis, como alimentação, lazer, cartão de crédito, etc.”
Ainda de acordo com Borba, uma vez com os dados anotados, é importante confrontá-los com o recebimento líquido de salário, que deve ser o valor usado para fechar o orçamento.
Gustavo Zebian explica que o ideal é que todas as despesas, fixas e variáveis, correspondam a no máximo 90% da renda mensal. “Se você recebe R$ 3 mil por mês, por exemplo, você precisa ter no mínimo 10% de folga. As despesas fixas e variáveis devem ser no máximo de 90% do orçamento.“
Orçamento familiar fica comprometido com acúmulo de dívidas — Foto: TV Centro América
Para quem já está começando 2023 endividado, os especialistas recomendam uma estratégia conhecida como ‘troca de dívidas’. Que consiste em renegociar os débitos e tentar quitar grandes valores através de empréstimos.
Segundo Borba, é comum que as principais dívidas das pessoas sejam o cartão de crédito e o cheque especial, porque são dívidas muito fáceis de serem adquiridas.
Para resolver o problema, o assessor recomenda “somar o valor de todas as dívidas pendentes e fazer um empréstimo ou crédito pessoal. Oferecidos pelos bancos, que possuem taxas de juros bem mais baixas do que o cartão e o cheque especial”.
Assim, ao invés de dever R$ 5 mil de dívidas com juros altos, é possível parcelar o valor total do empréstimo em mais tempo. Com juros menores, e controlar o valor das parcelas de forma que elas caibam no orçamento familiar.
Já Zebian alerta para o fato de que apesar de não ser interessante no longo prazo. A prática pode ajudar o devedor a se reorganizar e começar a criar sobras no orçamento.
“No longo prazo isso não é sadio, mas no curto prazo, que é o interessante, é importante fazer a parcela da dívida cair o bastante para caber dentro do orçamento e manter os pagamentos em dia. Não pode atrasar.“
Para quem conseguiu começar o novo ano sem dívidas, o ideal é reorganizar o salário para conseguir começar a guardar pelo menos 10% do salário logo no primeiro mês.
Com o orçamento detalhado em mãos, é mais fácil descobrir quais gastos podem ser cortados ou, pelo menos, quais despesas podem diminuir no mês.
“O primeiro passo para enxugar o orçamento é cortar tudo que é supérfluo. Cozinhar em casa ao invés de comer fora, dividir o transporte até o trabalho com um colega, tudo que puder enxugar até ter uma sobra no orçamento“, explica Gustavo Zebian.
Se ainda assim os gastos estiverem maiores do que o orçamento, o assessor recomenda medidas mais efetivas para aumentar a renda, como fazer hora extra ou, em casos mais graves, se desfazer de bens pouco usados ou de manutenção cara.
Converter preços em porcentagens é uma das medidas mais importantes para controlar o orçamento e recuperar a saúde financeira em 2023, de acordo com Gustavo Zebian.
“É importante ter consciência de que a inflação oficial não é a do nosso bolso. Por exemplo, o seu almoço que custava R$ 20 subiu para R$ 22. Não são só R$ 2, é um aumento de 10%. Você teve isso de aumento na sua renda? Não. De dois em dois, tudo vai ter ficado 10% mais caro e você continua com a mesma renda, então busque alternativas para se manter dentro do orçamento que você tem.”
As projeções econômicas para 2023 são, para Zebian, bastante desafiadoras. A taxa de juros, que deve girar em torno de 13%, vai impactar parcelas de financiamentos e empréstimos. Por isso, o ideal é se manter sempre dentro do orçamento.
O assessor também indica atenção com as contas no início do ano, que é marcado por gastos como IPVA, IPTU e material escolar. Segundo ele, uma aplicação conservadora, sem riscos e que qualquer pessoa hoje tem acesso, principalmente em bancos digitais, rende cerca de 1% ao mês.
“Sempre que for fazer um pagamento à vista, eu tenho que ter no mínimo 1% ao mês de desconto. Por exemplo, o IPTU pode ser parcelado em 12 vezes. Se eu pago à vista e tenho 12% de desconto, compensa pagar à vista. Menos que isso, compensa parcelar. Esse é o número para ter em mente no próximo ano. Pelo menos 1% de desconto em cada parcela.”
Por Isabella Mengelle, g1 Ribeirão Preto e Franca
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