Febre maculosa: veterinário explica como carrapato ‘procura’ por hospedeiros

Febre maculosa: veterinário explica como carrapato ‘procura’ por hospedeiros

Três pessoas que estavam em uma festa, em Campinas (SP), em 8 de junho, morreram da doença, e uma adolescente morreu por suspeita de febre maculosa. Um piloto de Jundiai e a namorada estão entre as vítimas.

O Instituto Adolfo Lutz confirmou na tarde de terça-feira (13) que o piloto e empresário Douglas Costa, de 42 anos, morreu de febre maculosa. Ele e a namorada, a dentista Mariana Giordano, 36 anos, morreram na quinta-feira (8) depois de apresentarem sintomas como febre, dor e erupções vermelhas pelo corpo.

Além do casal, outra jovem, de 28 anos, também morreu com a doença, segundo a Secretaria da Saúde de São Paulo. Uma adolescente de 16 anos morreu na noite de terça-feira (13) com suspeita de febre maculosa.

Eles participaram de uma festa em uma área rural de Campinas, no interior do estado. Douglas e Mariana passaram a ter sintomas de febre, manchas avermelhadas pelo corpo e dores no dia 3 de junho e faleceram cinco dias depois.

O médico veterinário de Jundiaí (SP) Gustavo Bauer explica que o carrapato-estrela se prolifera nas épocas mais secas do ano, como outono e inverno. Além da temperatura, o parasita possui uma característica que colabora para a infecção ou proliferação da doença: ele muda de hospedeiro algumas vezes durante o ciclo de vida.

 “Uma fêmea pode botar milhares de ovos no ambiente. Então, a população é muito grande durante as épocas secas do ano. Eles vão estar presentes onde tem matinho. A fêmea do carrapato quando está cheia de ovos, cai no chão, bota um monte de ovo. Esses ovos eclodem. O carrapato bebê vai para a ponta de um capim e ele sobe em um hospedeiro. Quando ele vai fazer uma troca de pele, cai no chão e ai vai subir em outro hospedeiro. Se ele sobe a primeira vez e se infecta com a bactéria, porque esse animal está infectado com a Rickettsia [gênero de bactérias que são carregadas como parasitas por vários carrapatos, pulgas e piolhos] vai cair no chão já infectado e vai infectar o seu hospedeiro seguinte e assim por consequência”, explica.

Os carrapatos estarão sempre presentes onde tem animais, principalmente os mamíferos, segundo o médico veterinário. E as capivaras não são as únicas a receber este hospedeiro. “As capivaras, por exemplo, estão no meio da história toda porque elas vivem em bando, estão próximas do mato onde esses carrapatos ficam, mas você também vai ter parasitose dos carrapatos em cavalos, em bovinos, bois e também cachorro e gato, gambá, outros roedores, inclusive o ser humano”, afirma.

Gustavo ainda diz que os animais roedores são assintomáticos e que podem ter a bactéria e não demonstrarem a doença. Porém, passam para outros animais e até humanos, que desenvolvem a febre maculosa.

Bauer aponta que o controle populacional das capivaras deve ser feito de maneira inteligente para que não afete outros animais mais próximos. A Vigilância Epidemiológica deve avaliar as populações das capivaras para evitar o aumento dos parasitas.

“Talvez, esterilizando as capivaras pra que elas não tenham superpopulação e, consequentemente, mais dos hospedeiros presentes, também muito da vigilância epidemiológica nos animais pet que estão próximos da gente, cachorro, gato, boi, cavalo. A gente tem alguns animais sentinelas que precisaria ficar de olho, além da população de roedores e dos animais que estão muito perto”, descreve.

Animais infectados

O médico veterinário explica também que se a capivara já foi infectada pela bactéria, gera um anticorpo contra a Rickettsia e não possui mais risco de transmitir a doença. Desta forma, a vigilância epidemiológica pode identificar quais animais estão positivos e há chance de viverem no local sem transmitirem a febre maculosa.

Local deve ser multado

Fazenda Margarida, local de eventos onde casal provavelmente foi contaminado por febre maculosa  — Foto: Reprodução

Fazenda Margarida, local de eventos onde casal provavelmente foi contaminado por febre maculosa — Foto: Reprodução

De acordo com a Prefeitura de Campinas, o local onde as três contaminações devem ter acontecido será autuado.

a Fazenda Santa Margarida lamentou o ocorrido. Em nota, a instituição ressaltou que a responsabilidade pelo controle e prevenção da febre maculosa é atribuída ao município, conforme estabelecido pela legislação pertinente.

“A Fazenda Santa Margarida sempre agiu e age de acordo com todas as normas e exigências legais relacionadas à vigilância sanitária, bem como mantém um rigoroso processo de manutenção e cuidados em relação ao espaço e sua conservação.”

“Na data de ontem, dia 12 de junho de 2023 a Prefeitura de Campinas, por meio do Departamento de Vigilância em Saúde, esteve em nossas dependências para realizar a validação das medidas adotadas e a análise do local. Ressaltamos que toda a documentação da Fazenda está em conformidade e regularidade com os órgãos competentes e as exigências legais, incluindo a Prefeitura Municipal de Campinas”, prossegue.

Por fim, a instituição destaca que nos últimos anos nunca houve qualquer caso semelhante a este e que a fazenda “se coloca à disposição das autoridades competentes para qualquer auxílio necessário na investigação desse triste acontecimento”.

Já organização do evento também se manifestou por meio de nota publicada nas redes sociais, onde declarou “profundo pesar” e se solidarizou com as famílias das vítimas. Além disso, também informou que a festa atraiu cerca de 3,5 mil pessoas, mas ressaltou que não há “nenhuma relação entre as atrações oferecidas com as causas anunciadas”.

“Até o momento, não se pode descartar que as contaminações tenham eventualmente ocorrido durante essa frequência na Fazenda Santa Margarida, mesmo porque a Vigilância Sanitária local veio à público reforçar que a cidade de Campinas ganha especial expressão como foco da referida doença”, completou.

A doença

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por uma bactéria transmitida por meio da picada de uma das espécies de carrapato, ou seja, ela não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa pelo contato e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças que causam febre alta. Há no estado de SP duas espécies da bactéria causadora da doença.

No interior do estado, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba, Assis, em áreas mais periféricas da região metropolitana de São Paulo e no litoral, mas em uma versão mais branda. Os municípios de Campinas e Piracicaba são, atualmente, os dois que apresentam o maior número de casos registrados da doença.

Em 2023, foram registrados nove casos de febre maculosa e três mortes no estado. Ambas as versões são potencialmente letais e demandam atendimento rápido para o recebimento de antibiótico específico.

Em Jundiaí, o caso do piloto é o primeiro registrado em 2023. Em 2021 e 2022, um caso foi registrado em cada ano, mas sem mortes.

A Secretaria de Estado da Saúde reforça que as pessoas que moram ou se deslocam para áreas de transmissão estejam atentas ao menor sinal de febre e que procurem um serviço médico informando que estiveram nessas regiões para fazer um tratamento precoce e evitar o agravamento da doença.

Fonte EPTV

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